A Reforma Protestante em 5 pontos
O lema da revolução espiritual da Reforma Protestante continua vivo e pertinente: “Ecclesia reformata, semper reformanda est”, em bom português, “Igreja reformada, sempre se reformando”. Aqui vai um guia para as 5 Solas, os princípios que nortearam o movimento:
SÓ A ESCRITURA:
“Toda escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.16-17)
Durante a Idade Média a Igreja Cristã perdeu de vista que o único referencial autorizativo para questões de fé e prática é a Bíblia Sagrada, também denominada de Escritura. A tradição, a palavra do Papa, as decisões dos Concílios, a razão e os sentimentos se introduziram como “concorrentes”. A Reforma do século XVI resgatou o princípio de que somente a Palavra de Deus pode decidir sobre o que deve ser crido e como a vida cristã deve ser vivida. Diante do tribunal que exigia sua retratação, Lutero disse: “Minha consciência está alicerçada pela Palavra de Deus […] Assim Deus me ajude. Amém!”
SÓ A GRAÇA:
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9)
“Graça é o favor divino, imerecido, que elege, redime, regenera e preserva o pecador para promovê-lo ao céu”. Com o passar dos séculos, a Igreja cristã introduziu na sua compreensão de salvação a ideia do mérito, desviando-se do padrão apostólico original. Na teologia medieval, formulada por Tomás de Aquino, a natureza humana passou a ser considerada potencialmente boa, rompendo-se radicalmente com o conceito bíblico, também defendido por Agostinho, de que o homem nasce com o coração corrompido. “Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.10-12)
SÓ A FÉ:
“[…] visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17)
A justificação somente pela fé foi a grande redescoberta que proporcionou a conversão de Martinho Lutero. Por muitos anos, desde que se tornara monge agostiniano, sua alma permanecia sem paz, uma vez que a doutrina oficial da Igreja dizia que a salvação era alcançada através das obras. A Reforma começou com a negação radical dessa ideia antibíblica, quando Lutero fixou suas 95 teses na porta da Igreja em Wittemberg como uma reação à infame venda de indulgências – certificado emitido pelo Papa e vendido para quem desejasse ter seus pecados perdoados. “O homem não é justificado por obras da lei e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 2.16). Esse foi o entendimento e o ensino claro dos apóstolos sobre o único meio através do qual o pecador pode ser salvo – mediante a fé!
SÓ JESUS CRISTO:
“E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12)
O único Mediador entre Deus e os homens é Jesus Cristo. Esse foi o ensino apostólico: “Porquanto há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). Na era medieval, a Igreja se distanciou desse padrão introduzindo os sacerdotes, os santos, a própria Igreja e a Virgem Maria como mediadores concorrentes de Jesus Cristo. A Reforma enxergou com clareza esse desvio e o corrigiu, retornando ao padrão apostólico. Ninguém pode usurpar o lugar exclusivo de Jesus Cristo na salvação dos homens – Só Ele conseguiu viver sem pecar contra Lei de Deus e só Ele morreu como um inocente no lugar de pecadores culpados. Ele é o “Cordeiro de Deus” (Jo 1.36)
SÓ A GLÓRIA DE DEUS:
“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31)
A mais exigente declaração dentre os cinco pontos cardeais da Reforma é essa que estabelece toda glória a Deus. A era medieval corrompeu aos poucos esse padrão apostólico, transformando a fé cristã numa religião centrada no homem e não em Deus. A doutrina exaltava o homem, o culto era antropocêntrico, a Igreja transformou-se numa agência política e o sacerdócio era mais profano do que sagrado. O espetáculo da idolatria reinante na cristandade medieval era a mais gritante evidência de que o interesse pela glória de Deus havia sido abandonado. A teologia de João Calvino enfatiza compreensivelmente a soberania divina pela simples razão de tributar toda glória a Deus. O luterano J.S. Bach assinava todas as suas partituras com SDG, “Soli Deo Gloria”.